terça-feira, 23 de setembro de 2008

22.09.2008










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Todo o belo se gasta. O tempo é-lhe corrosivo.
A beleza como fósforos, o fogo gasta, o fogo corrói. Acende-se um novo, diferente.
E pode ser isto viver, até ao fim dos nossos dias.

Há quebras. De vez em quando se olham as coisas ordinárias, e como ventriloquos de nós mesmos percebemos a sua presença,
como um todo talvez intemporal.
Não se gastam, tampouco se corroem. E melhor vendo, onde está afinal a beleza?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Viagem a Lisboa

Mais uma vez me encontrei a ver um filme, desta vez Viagem a Lisboa.

Têm sido tempos em que cada vez mais me surpreendo com a beleza do desconhecido.

De lá retiro um pequeno diálogo que achei curiosíssimo.
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Dantes as imagens contavam histórias e mostravam coisas. Agora só pretendem vender, histórias e coisas. Mudaram sob os nossos próprios olhos. (…) As imagens estão a vender o mundo ao desbarato. Quando vim para Lisboa fazer este filme, julguei que conseguia fugir a isso.(…) Mas não funcionou, Winter. Por algum tempo, pareceu funcionar, mas depois desmoronou-se tudo. Adoro esta cidade! Lisboa! E a maior parte do tempo vi-a realmente em frente aos meus olhos. Mas apontar uma máquina de filmar é como apontar uma arma. E cada vez que a apontei, senti-me como se a vida se estivesse a escoar das coisas. E eu filmava e filmava, mas a cada rodar da manivela, a cidade recuava mais e mais, afastando-se mais e mais. (…) Mas há uma maneira e estou a trabalhá-la. Ora ouve! Uma imagem que não foi vista não pode vender nada. É pura, e por conseguinte, verdadeira e bela. Numa palavra: é inocente. Enquanto nenhum olhar a contaminar, permanece em uníssono com o mundo. Se não for vista, a imagem e o objecto que esta representa, permanecem juntos. Sim, é apenas quando olhamos para a imagem, que a coisa que ela contém… morre. E cá está, Winter, a minha "biblioteca de imagens jamais vistas"! Todas estas imagens foram filmadas sem intervenção do olhar humano. Ninguém as viu enquanto foram gravadas, e ninguém as visionou depois. Filmei-as todas nas minhas costas! Estas imagens mostram a cidade como ela é e não como eu desejaria que fosse. Seja como for, cá estão elas, no seu primeiro e doce sono da inocência, prontas a ser visionadas por alguma geração futura, com um olhar diferente do nosso. Não te preocupes, amigo, ambos estaremos mortos.